quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Na realidade, não es nada a eles!

Quinta-feira, 20 de Dezembro de 2002, menina de 13 anos, férias de Natal, dia normal, muita brincadeira com os amigos lá do bairro...até que as horas começam a passar e noticias dela nem aparecem sequer, nada de anormal, poderia perfeitamente ter perdido o autocarro habitual onde costumava vir até casa, mas as coisas começaram a deixar de fazer sentido quando o telemóvel deixou de estar ligado, quando as poucas vezes que se conseguiu falar com ela, a conversa era desviada para outros assuntos. Horas passadas, ouve-se "E agora o que vamos fazer?" Agora? Agora o quê?!? Pensei eu, não pode ser nada de mais, até porque ela deixou em casa 2 filhos, um de três anos e outro de 6 meses. Não tarda nada ela estará em casa a explicar o que aconteceu, mas não, nem nesse dia, nem nos seguintes e justificações? Não deu, nada, nem uma chamada, um pedido de desculpas, nada nada nada...e ainda hoje pergunto-me porquê?!? Nessa altura eu só tinha apenas 13 anos, tinha idade para estudar e para me divertir, sem grandes responsabilidades, idade de muita coisa, mas não de ser adulta em idade de criança, a partir do dia 20 de Dezembro a minha vida mudou quase drasticamente, como da noite para o dia, comecei a ter responsabilidades, estudava de dia, tomava conta do meu sobrinho de 6 meses durante a noite, era a verdadeira mãe dele, porque acredito que pais são aqueles que criam, não quem tem o prazer de os fazer quando isso implica abandono. Nasceu em mim uma raiva que foi alimentada durante muito tempo, uma vontade enorme de bater até não ter forças em quem tem coragem de o fazer!!! As perguntas sem respostas, N de coisas que nos passam pela cabeça para não os magoar mais porque magoados ja eles ficam nesta historia toda. O meu sobrinho mais velho ja tinha 3 anos, percebeu o que acontecera desde o primeiro dia e durante dias andou numa tristeza que metia dó...
Seguiram-se meses complicados, juntamente com o meu bebé sofri com o nascimento dos dentes, com as otites que teimavam em rebentar com alguma persistência, com as diarreias infernais, com as trocas de sonos, dormia de dia e brincava de noite mas nunca, nunca desisti, nunca ponderei deixá-lo com a minha mãe ou avó, nunca sequer me passou isso pela cabeça! Fi-lo com um esforço enorme, muitos dias dormia nas aulas, sim, mas tambem tinha o meu coração cheio quando ao acordar me dava um abraço e dizia com o seu vocabulário próprio que gostava muito de mim!
Passaram dois anos e meio depois do abandono e durante esse tempo ela apareceu algumas vezes, umas para levar pertences pessoais, outras para ver (?) os filhos, até que houve um dia que veio para ficar e levar os meus meninos, sim, levou-os, com mentiras, mas levou-os, e num piscar de olhos deixei de ter os braços pequeninos a agarrar-me todas as manhãs, um beijinho de boa noite, um biberão para lavar porque tinha acabado a mamada...e custa-me, custa-me horrores pensar nisso e sentir que houve pessoas injustas connosco, comigo, com a minha mãe, a minha avó e com os meus pequenos, de nós todos que fizeram parte da vida deles durante esses meses todos, não mereciam ter uma mãe assim, capaz de tudo para ter o que quer. Não é ir, fazer das suas e só porque lhe apetece, vem e leva-os de quem lhes deu amor, carinho, afecto, de quem tratou deles como de seus filhos se tratasse..
Dez anos quase passados depois daquele dia e ainda hoje tenho raiva, vontade de chorar pela cobardia de quem consegue abandonar os próprios filhos e nesta merda toda, o que me deixa mais magoada, é a mãe dos meus sobrinhos ser minha irmã (ja deixou de ser ah muito tempo).
Tenho saudades de ter um abraço grande com braços pequeninos :-(
Simplesmente tenho saudades, muitas!

Sem comentários:

Enviar um comentário